08/03/2007

do que escuto
no meio da madrugada
se atentamente apurar
meus ouvidos

na direção do armário


05/20/2007

e quando
esquecer da alegria
– isso acontece –
esqueça também
das tristezas
dos telefonemas
das palavras atiradas

lembre-se
que tudo ainda nem
começou

levante a saia

silêncio
tic-tac
tic-tac
tic-tac

apague o som
(lembre-se de esquecer de mim)


05/20/2007

sejamos
muito sinceros

as palavras
não gostam de mim
só aparecem
quando você está
aqui

depois
se vão

nem esperam
para saber
se
você

fica


04/25/2007

The Scratch

I woke up with a spot of blood
over my eye. A scratch
halfway across my forehead. But
I’m sleeping alone these days.
Why on earth would a man raise his hand
against himself, even in sleep?
It’s this and similar questions
I’m trying to answer this morning.
As I study my face in the window.

(Raymond Carver)


03/27/2007

isso
de sonhar

consistentemente
insistentemente
displicentemente

cães peitos bocas
cabeças membros

isso de sonhar

isso


12/06/2006

prefiro as cicatrizes.
as cicatrizes contam histórias


10/23/2006

Se eu não enxergo nada,
como tudo pode estar tão claro?


08/18/2006

a truculência da bailarina ruiva

mal arranha luz
diante meus olhos

wide shut


08/15/2006

e sabe (tantas fez)
que
para isso
não existe alma

(não existe morte)


06/25/2006

Verão

Ele levantou-se e entrou no quarto. Ela estava enrolada numa toalha, o corpo curvado numa expressão de raiva que em poucos segundos se transformou em desânimo. Ele a observava sem que ela o notasse. Ela lutando contra uma chave presa na fechadura do armário. Ela o percebe. “Sim, acabou”.